quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Grécia à mesa


Assim que li o post de Lucrécia sobre um restaurante grego que fica ali para os lados da Basílica da Estrela tive a certeza de que tinha de experimentar um dos pratos que ela lá provou.

Ora, Lisboa ainda fica a uns quilómetros de distância e não consigo por-me lá em minutos. O que fazer? Pesquisar pela receita, comprar os ingredientes, se possível e cozinhar. Foi o que fiz e não podia ter feito melhor escolha!


Como se chama o fruto da minha gula? Tem um nome quase impronunciável: "S-P-A-N-A-K-O-P-I-T-A".

Encontrei uma receita no site do Continente e pareceu-me tão simples que não procurei outra. Ainda que não seja a certa, é, certamente, muito saborosa. Saí para comprar queijo fetta, espinafres e massa filo. Os demais ingredientes tinha em casa. De regresso, meti as mãos na massa, acrescentei as nozes que não são mencionadas na receita e deixei para trás o molho de vinho branco com tomate seco - confesso que me esqueci e não me fez assim tanta falta.


O resultado é qualquer coisa dos deuses! Pode não ser o original, mas que é bom e serviu para me matar o desejo, serviu! O aspecto? Modéstia à parte não podia ser melhor.

Acompanhei com salada de tomate temperada com azeite e oregãos. Não sei se é o acompanhamento certo, mas não deixa de ser mediterrânico. Para a próxima junto umas azeitonas pretas à salada


A vizinha grega já não mora aqui, caso contrário tinha levado a minha spanakopita para que a avaliasse. Vou, de certeza, repetir este manjar e, numa próxima ida à capital, espero conseguir provar o prato que tanto deliciou Lucrécia.


domingo, 2 de abril de 2023

Dia Internacional do Livro Infantil

Sou uma privilegiada. Eu e a minha irmã! 

Posso não ter tido as roupas mais fancy ou os brinquedos da moda mas nunca me faltou livros. Muitos. Dezenas. Centenas, se for contar os que estão nas estantes em casa dos meus pais sou capaz de me perder. 

Primeiro, as histórias foram-me lidas e relidas até à exaustão. Depois fui eu quem as leu. Mais tarde li-as à minha irmã e depois disso também ela as leu e releu. 

A maior parte destes livros já não está no mercado e suspeito que alguns - tendo em conta o que está a acontecer - já não seriam permitidos.

Como não me consegui ficar pela escrita deste artigo, fui espreitar uma das estantes que mencionei acima. Pensei que abria as portas, tirava umas fotos, revia umas histórias e me ficava por aqui. Mas não... Tive surpresas agradáveis e outras nem por isso - a humidade entrou aqui, o bicho apareceu e tive de pôr no lixo dois sacos de livros já irrecuperáveis. Que tristeza... 

Felizmente os mais bonitos estão intactos, ou quase. São tão diferentes do que há hoje em dia... Como é que sei? 

Porque continuo a comprar livros infantis, para mim e para oferecer. Há quem me chame a "tia dos livros", há quem me diga "já sabia que me trazias um livro" - como quem diz "já paravas com essa mania de oferecer livros". 

Há livros maravilhosos, porém há uma - ainda pequena - percentagem tão sem graça e tão politicamente correctos que não têm piadinha nenhuma.

Sugiro o seguinte exercício: ainda que mentalmente contem histórias como o Capuchinho Vermelho, a Cinderela, a Branca de Neve ou os Três Porquinhos sem a figura do vilão.
Já está? Como ficaram as histórias? Politicamente correctas? É que nem isso! É necessário a existência de um vilão para que a narrativa tenha sentido, seja engraçada e ensine alguma coisa. Quer queiramos quer não, vivemos numa sociedade em que há "os maus" e "os bons"... 

Todos os dias entram na minha casa e na minha vida dezenas de miúdos e, muitas vezes a conversa vai ter, inevitavelmente, aos livros.

Hábitos de leitura? Apenas dois ou três os têm.
Livros em casa? Pelo espanto com que olham para as minhas estantes e pelo que me dizem não devem ter muitos. Como diz a Georgina "criam muito pó"!!!
Pais que lêem? Também não.
País que lhes tenham contado histórias? Muito poucos...

O que lêem, então? Pouco nada mais do que o que a escola os obriga. Fazer resumos e apresentações? Vão ao Google e nem sequer verificam a veracidade dos factos: se está na net, é porque é verdade! #sqn

Com este panorama, como é que se cria o gosto pela leitura?
Os telemóveis e os jogos são muito mais apelativos. Alguém os iludiu criando a ideia de que aprendem com esses mesmos jogos.

Há ainda aqueles que se julgam escritores e vendem livros que nem para acender a lareira servem. Conhecem o Inspector Engrola? Não perdem nada! Mas se o virem aí por casa, abram-no, folheiem-no e vejam o que alguns dos vossos filhos andam a ler. Este é apenas um exemplo. Deve haver mais do género 

Muitos pais pedem-me milagres. Pedem-me que ponha os filhos a ler, que os faça gostar de ler, entre outros... De brincadeira, digo que milagres acontecem em Fátima e que o meu nome é Margarida. Impor-lhes a leitura apenas tem o efeito contrário.

O gosto pela leitura educa-se, não se ensina. E, como é sabido a educação começa no berço - ou antes. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

THE CONDUCTOR


Ver uma orquestra ao vivo tem qualquer coisa de fascinante. É, na realidade, mágico! 

Observo o maestro e fico indecisa sobre em que cena me focar: se naquela em que Merlin, no filme  A Espada era a Lei, com simples mas intricados gestos das mãos arruma a casa e a enfia dentro de uma mala ou se num teatro de marionetas em que os fios que as movem parecem ser uma extensão dos dedos do artista que as articula. Talvez me fique pela primeira, já que a varinha de Merlin faz com que todos os objectos se movimentem num harmonioso e delicado bailado.

E foi na expectativa deste espectáculo que ontem estive no Teatro das Figuras a assistir à estreia do maestro Martim Sousa Tavares à frente da Orquestra Clássica do Sul. Desde que, há meses, esta chegada foi anunciada que espero por este dia, por isso, no momento em que a data foi publicada tratei, imediatamente, da aquisição dos bilhetes. Ainda bem que o fiz, pois a sala esgotou! 

Uma sala cheia para ver um nome sonante. 

Um apelido de peso, sem dúvida! Pai, mãe e a inesquecível avó - que todos trazemos um pouco cá dentro - Sophia de Mello Breyner Andresen ❤️ A primeira vez que ouvi falar deste rapaz foi em 2011, pela boca da própria mãe - Laurinda Alves -, de uma forma discreta e com um brilho nos olhos, em conversas de ocasião, num escritório no Príncipe Real. Desde então, mais ou menos, tenho acompanhado o seu percurso pelos media e pelas redes sociais em que se move. É uma delícia ouvir as teclas do piano rendidas ao seu talento.


Ontem não o vi ao piano. Observei-o, de costas, a fazer magia e a lançar feitiços com os quais deixou, no fim, uma plateia de pé.

Confesso que pouco ou nada percebo de música, mas aos meus ouvidos pouco educados tudo me soou perfeito. Se para que uma orquestra seja boa é apenas necessário que se goste do que toca, então esta está muito além do que o superlativo de boa possa significar. Atrevo-me a dizer que foi magnifico. Memorável, até.

Vi e ouvi o concerto muda e de olhos postos de onde vinha o som. As cordas de um lado e de outro, o sopro mais atrás e a percussão quase escondida. De que gostei mais? É impossível destacar um elemento.

Não tenho dúvidas de que a sala cheia a um domingo à tarde se deveu ao peso do nome a comandar a orquestra, contudo o espectáculo não teria sido o mesmo sem aquele conjunto de músicos que encheram o palco - e se é grande aquele palco!!! Nem há um mês estive lá em cima, também, e conheço-o nas pontas dos pés.

E se não fosse a orquestra? Bem, tenho a certeza de que o maestro também teria dado espectáculo, pois é uma multifacetado, com uma cultura geral dantesca e com um sentido de humor desconcertante.

Martim, numa próxima oportunidade levo tarte de queijo e ficamos todos na conversa. Que tal? 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Os filhos do digital

 “Tão inteligente! Tão pequenino e já sabe ir ao Youtube sozinho!”

“Criança esperta! Domina o telemóvel melhor que qualquer um de nós!”


Quem nunca ouviu ou disse algo do género? Quem nunca ficou boquiaberto com a destreza com que os mais jovens manuseiam as novas tecnologias? 


Imagem: Unsplash


Dê um passo em frente se nunca passou para a mão de um miúdo um telemóvel, ou tablet, para o entreter num momento de tédio, para pôr fim a uma birra, para que se calasse um pouco, para conseguir fazer algo sem ser incomodado? As hipóteses são imensas e, com certeza, haverá um elevado número de pessoas a sair do lugar onde está. Com medo, com culpa ou sem qualquer sentimento ou emoção, pois este é um gesto já irreflectido,  imediato e normalizado perante uma “situação de crise”.


É tudo muito interessante até ao momento em que, já desesperados, os pais não sabem o que fazer, pois os filhos estão viciados em redes sociais, em jogos, em amigos que não conhecem. Saem de casa, de manhã, já com os olhos fixos num qualquer ecrã portátil; na escola, caso não seja proibido, passam aulas e intervalos agarrados ao whatsapp, ao TikTok e outras aplicações onde o mais provável é estarem a trocar mensagens com o colega que está sentado mesmo ao lado - não, não estão a contar segredos, são conversas banais nas quais poderiam usar um sistema muito mais desenvolvido: o aparelho fonador do qual somos naturalmente dotados; ao final do dia, depois de aulas, explicações e mil e uma atividades extracurriculares, chegam a casa e enfiam-se no quarto, onde continuam com os dedos e os olhos esgazeados pelos aparelhos que têm à mão.


E assim vão crescendo.


Os fabricantes de jogos para as mais diversas consolas existentes no mercado alegam que os seus produtos fazem desenvolver capacidades e competências que, posteriormente, são facilmente concretizadas na vida real. Há, no entanto, estudos que provam o contrário. Em jogos de combate ou de velocidade, em que são necessárias destreza, rapidez de raciocínio e acção, tudo isso não passa de ficção. Nada disso é aplicável em circunstâncias reais. Saber jogar FIFA - um dos jogos mais populares entre os amantes de futebol - não significa que se saiba chutar uma bola. Super Mário, GTA, Clash of Clans Minecraft, Simms... Há tantos outros exemplos


São horas, dias, meses, anos de ecrã. Tempo que se perde, em que pouco se aprende e com consequências devastadoras a todos os níveis: cognitivo, emocional, social e físico. Tudo acontece demasiado rápido, não há tempo de espera, logo não há tédio, logo perde-se a oportunidade de descobrir o que fazer com o tempo que se tem entre mãos.


Há miúdos que têm os melhores amigos num computador sabe-se lá onde, com todos os riscos que isso possa acarretar, porém se se cruzarem na mesma sala são incapazes de trocar uma palavra ou até um olhar. Há outros tantos cuja caligrafia é imperceptível, porque não desenvolvem a motricidade fina. Há jovens incapazes de resolver uma soma ou uma multiplicação simples, porque a calculadora fá-lo por eles. E, por incrível que pareça, uma boa parte desta geração não sabe e não consegue fazer uma pesquisa no Google!


Responsáveis? Nós! Nós que inventámos os computadores, as consolas e os telefones espertos. Nós, que lhes colocamos nas mãos o primeiro ecrã antes de completarem um ano de idade. Nós, que cedemos a chantagens baratas em troca de um pouco de sossego. Nós, que caímos na conversa do bandido, acreditando que o último modelo da marca fará dos nossos pequenos uns génios. Nós, que compensamos a nossa ausência com tecnologia.


Acredito que nem tudo seja mau, mas para que não se torne pior, teremos de ser nós, adultos, a fazer alguma coisa. Adiar os ecrãs, criar outros estímulos e, consequentemente, adoptar hábitos diferentes. Fomentar tempo de qualidade com os mais novos e criar-lhes memórias - como dizia Johann Paul Richter “a memória é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos”



NOTA: Este artigo foi originalmente publicado, na edição 52 da revista Justiça com A

domingo, 23 de outubro de 2022

A essência


Algures no tempo sinto que a essência do Pano p'ra Mangas se foi perdendo. Foram as redes sociais, fui eu, foram todas as mudanças que aconteceram - não, não tem nada a ver com a pandemia, aliás, esta não pode ser desculpa para tudo o que se perdeu e não trouxemos para esta nova vida. Nova...está quase tudo na mesma, se virmos bem.

E como é que me dei conta disto? Agora! Apenas agora. Nunca é tarde, parece-me...

Fui a uma das estantes que tenho nos meus cinco metros de felicidade na meca de uns livros japoneses, de costura, que comprei na Retrosoaria há cerca de dez anos (UMA DÉCADA!) e os meus olhos pararam nestes dois que trouxe de Londres, também há quase dez anos.

Olhei para eles, peguei-lhes, folheei-os e pensei que os compraria de novo se fosse hoje. Afinal há coisas que não mudam e a essência é uma delas.

Na época o Instagram estava a dar os primeiros passos, ainda não havia influenciadores digitais, pouco se falava em gestão de redes sociais ou gestão de comunidades. As bloggers trocavam, entre si presentes que, depois agradeciam num post simpático. Era genuíno. Enviávamos e recebíamos sem o compromisso de ter que falar bem. Enviávamos e recebíamos porque sim. Apenas isso. Foi noutra vida, parece-me.

Às vezes perguntam-me pelo blog. Não morreu, mas tem estado em coma profundo agarrado apenas ao nome que permanece nas tais redes que o vieram destronar. Lá, os textos são mais curtos, as fotos que têm mais audiência são aquelas em que aparecemos, os posts com mais visualizações, partilhas e comentários são os que, de alguma forma, se referem a assuntos mais polémicos.

E eu fiquei a namorar os livros que trouxe comigo. Enfiei na mala também um dos meus quilts. 


Tenho saudades de escrever aqui - porque continuo a escrever noutros lugares. Tenho saudades das horas passadas no atelier e para o qual, nesta fase da minha vida não tenho tempo. Tenho saudades dos meus cadernos de aguarelas e rabiscos onde desenhava projectos que nunca chegavam a tomar forma.

Porque o que eu gosto realmente é de escrever, de fazer. Quero que me reconheçam pelo que escrevo, pelo que faço, pelo que sou, e não pelos lugares onde vou, pelas roupas que visto ou pelas pessoas que encontro pelo caminho.

Abrandar é o que se impõe. Tal como escrever, já que para fazer precisava de um tempo que agora não tenho.

Quanto aos livros, lembro-me que foram amor à primeira vista, tal como a loja onde os comprei e onde ía amiúde. O estilo shabby-chic estava muito em voga na época. Era descontraído, despretensioso, obrigava a rebuscar os baús das avós. Era - e é! - uma delícia.

quarta-feira, 2 de março de 2022


A terça feira de Carnaval é conhecida, em alguns países, como Pancake Day, que é como quem diz:
Dia de comer panquecas!

Aqui por casa come-se panquecas quando nos apetece. Qualquer dia é dia de as fazer e de as comer.

Já no Instagram parece que é o Domingo o dia delas, a não ser que façam como eu, em que um dia de praia, no Verão, rende para umas semanas de fotografias 😂😂😂 - sim, como o mesmo biquini! o que faz com que oiça muitas vezes: "Mas tu passas a vida na praia!" - só que não!

Uma dose de panquecas da minha receita rende, pelo menos, para doze unidades, o que equivale a seis pratos decorados de diferentes maneiras, e aí teríamos um mês e meio de domingos perfeitos de panquecas maravilhosas. #fakeituntilyoumakeit

Ainda assim há uma razão para este dia. A terça-feira de Carnaval antecede a quarta-feira de Cinzas, com a qual o mundo Cristão inicia a Quaresma, período que se prolonga até à Páscoa - 40 dias, para os mais distraídos - e durante o qual era/é hábito jejuar. Não, não se fica quarenta dias sem comer, apesar das guloseimas - folar e ovos de chocolate, entre outras. Renuncia-se, sim, a algumas iguarias em nome do culto, do respeito, da fé, da tradição (que já não é o que era, como diz o slogan publicitário),...

Cultura geral à parte e voltando às panquecas: a receita é a a de sempre, com um pequeno twist - substitui a chávena de leite por uma, mal cheia, de iogurte grego.

Ficaram mais altas e fofas, mas o sabor é exactamente o mesmo.

Como gosto de as servir e comer? Com tudo e com todos, porém os meus preferidos são açúcar, canela, mel, fruta, iogurte, fiambre e queijo. Um de cada vez, 'tá? Que eu não gosto de mixórdias!

São servidos?


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Corrigir testes


Todos nós crescemos a fazer testes e, enquanto estudantes, reclamávamos de cada vez que o professor chegava à aula a seguir aos ditos cujos sem que os trouxesse corrigidos. Ora bem...isto tem mais que se lhe diga!, mas na altura não fazia ideia do que estava por trás de tamanha demora.

Sim, há professores mais ágeis que outros. 
Sim, há disciplinas, cujos testes, que, pelo seu teor mais objectivo, são mais fáceis e rápidos de devolver.
Sim, há professores mais, ou menos exigentes.

Confesso: sou chatinha! E, por incrível que pareça, um teste com menos anotações não quer dizer que esteja melhor que um outro que esteja mais rabiscado, anotado, pintalgado. Por vezes não há nada que possa ser dito e isso não tem de ser nem bom, nem mau. Outras vezes há em que faço tantas anotações, setas e asteriscos que não deve ser fácil interpretar o porquê de tanta cor. 

Normalmente nem olham para o que lá escrevo. Apenas vêem a mancha colorida que invade o enunciado e passam os olhos pela nota. Depois, enfiam a folha dentro de um caderno, deixam por baixo da mesa ou atiram para a mochila. Poucos são os que se questionam. Poucos são os que têm tudo organizado. Enquanto adulta e no papel de professora, é obvio que me preocupam os primeiros e me agradam os últimos. Eu já tive a idade deles e lembro-me o que fazia aos testes quando os recebia: alguns havia que não ligava nenhuma, outros eram analisados à lupa na tentativa de descobrir alguma falha do professor para que pudesse subir a nota e outros guardava-os no respectivo caderno diário.

Tenho por norma não corrigir a vermelho. Prefiro o rosa ou o laranja. Manias ... 

Há dias dei-me ao trabalho de contar pelo relógio o tempo que levo em correcções. São cerca de três horas a corrigir oito textos (no meu caso, um texto - ou produção escrita - corresponde a um teste), em que a média de palavras ronda as 160 ou 180. Parece pouco, não é? Seria, se não tivesse mais de cem para corrigir.

Leio cada um destes textos, pelo menos duas vezes. Às vezes, três. A cada volta descubro erros ortográficos, de pontuação, de coesão e coerência. A cada volta faço anotações diferentes: assinalo reiterações, sugiro sinónimos e outras formas de escrever o que lá está.

Ao fim de algum tempo tenho de parar. Preciso destas pausas para continuar a tarefa com precisão e rigor, sem me deixar vencer pelo cansaço. Não acho certo que nos primeiros sejam corrigidos de forma mais rigorosa que os seguintes. Os critérios têm de ser iguais. Dou comigo, muitas vezes, a consultar o dicionário pois, de ler tantos erros, acabo por ficar com dúvidas. Será só comigo que isto acontece? 

Feitas as contas, demoro cerca de 45 horas com um grupo de textos de avaliação, já que depois de os corrigir ainda tenho de os classificar em infinitas e demoníacas tabelas de Excel!!!

São muitas horas, é verdade. E onde é que as vou buscar? Dava jeito ser Senhora do Tempo, com a capacidade de o multiplicar... Mas não sou. Assim, tenho de as roubar aos meus dias, à minha cama, aos meus amigos, à minha família, aos meus hobbies, às refeições, à casa, a mim... 

Podia não fazer testes? Podia!  

Quantas são as profissões que exigem trabalhar antes e depois do horário laboral? Há algumas, eu sei que há, mas não são assim tantas como tudo isso. 

E não, não me estou a queixar. Isto é um facto contra o qual não há argumentos. Quer dizer... há miúdos que argumentam também ter de estar na escola e ter de estudar depois e não receberem por isso - não recebem em moeda, é verdade, mas recebem em notas e em géneros, não têm contas para pagar nem outras preocupações do género. Percebem isso? Acho que não...



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