segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Memórias: A Retrosaria Cristina

A Retrosaria Cristina, ou Casa Cristina como também é conhecida é/era um dos ícones da Baixa de Faro. Lembro-me de ir lá com as avós e com a mãe e dificilmente saíamos sem o que tinhamos ido procurar: botões, forros, fazendas, fechos ou linhas. Havia de tudo!
Os anos foram passando mas a loja ficou parada no tempo - parada e sem conservação. Pelo menos aos olhos de quem lá entra, como cliente, como observadora - tudo se tornou velho sem conseguir adquirir o estatuto de antigo. É triste.
Não sei o que levou a que isto acontecesse, mas se lá for perguntar de certeza que me respondem que foi "a crise", essa istituição que tomou conta do poder e parece não ir embora, ou porque não quer ou porque não a deixam ou porque, apesar de tudo, as pessoas se habituaram a viver na sua sombra.
Há uns dias que não vou à Baixa, por isso não sei se ainda continua com as portas abertas, pois há muito que se anuncia o seu encerramento.
Entro lá muitas vezes em busca de fitas, galões, alguns tecidos e botões. Amiúde os botões que vemos nas caixas não correspondem ao seu conteúdo, pois de velhos que são estão debotados, sem cor, sem vida tal como tudo o resto que os rodeia. As fitas e os galões que (ainda) enchem as gavetas não respiram - não as deixam respirar - são mantidos prisioneiros por vozes do lado de lá do balcão que também cheiram a mofo e perderam a vontade de vender:

"Bom dia, podia-me mostrar o que tem de galões, por favor?"

"De que cor?"

"Nem sei bem, mostre-me o que tem que eu depois decido. Não é para nada concreto"

"De que cor? E de que largura?"

"Se me mostrar o que tem nas gavetas, talvez chegue a uma conclusão"

"Só tenho aqueles que ali estão!"

A cara é fechada e o sorriso não existe enquanto apontam para um pequeno cesto na decrépita montra. Por trás do balcão há gavetas cheias do que pedi, mas como eu não disse exactamente o que queria, é mais prático e dá menos trabalho não vender.
Não é o fim de um ciclo, mas o fechar de um círculo.

Foto daqui.

7 comentários:

  1. As gavetas cheiram a mofo, e com sorte ainda se vê uma traça apressada entre as fitas e galões...

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  2. E eu passei mesmo em frente desta casa no princípio do mês, mas nem me lembrei de entrar e espreitar. Que pena!

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  3. É, é uma pena quando isso acontece!
    Por aqui também há disso... mas felizmente também há o oposto:)
    Haja esperança.
    E obrigada por me ter feito conhecer este cantinho que já andei a explorar (só um bocadinho)
    Parabéns às manas do Algarve!
    Também sou do tempo das diferenças ente a Escola Industrial e Liceu...

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  4. Uma casa "faz-se" quando estão reunidos um determinado conjunto de critérios: amabilidade, simpatia, "bom-grado" como diz a minha avó, boa-vontade, disponibilidade. E nada disso existe nesta retrosaria. Entrei lá um dia com muita ilusão e saí muito desiludida.
    Confirmo! As caras são fechadas, sisudas, contrariadas, e como aquilo que está à vista não preenche os nossos desejos, ou sabemos exactamente o que pedimos, ou saímos de mãos a abanar. Eu saí com uns míseros galões que pendiam tristemente na montra do balcão. Culpa minha, não soube explicar com exactidão aquilo que queria!
    Mas se esta retrosaria vai fechar eu diria que a culpa não é só da "crise", é de outras (más)-vontades que por lá andam!

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  5. Cá em Portimão existem algumas assim, só lá vou em último caso... Uma delas é pequenina, tem muita coisa antiga,fitas, botões, galões, mas a dona, já de idade é simplesmente intragável... Chega a ser inconveniente e mal educada... E é uma pena porque assim afasta cada vez mais os (poucos) clientes que lá vão...

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  6. ameninabrinca: sinceramente não sei se conseguirias comprar alguma coisa, pois são por vezes tão resistentes a "pedidos evasivos" que até custa a crer...

    méri:é uma pena e um desperdício...:-S

    miquinhas: sim, a falta de e a má vontade andam juntas de mão dada!

    oficina das linhas: de poucos clientes passam a nenhuns!

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  7. meninas de Portugal inteiro,
    Mas em Aguada de Cima (mesmo ao lado dos correios), freguesia do concelho de Águeda, existe uma retrosaria fantástica: a Artes & Fios. lá, o atendimento baseado na mais pura gentileza, é calmo sorridente, cheio de atenções. mostram, ensinam, emprestam, sugerem, trocam. Entra-se e, depois, sai-se com vontade de lá tornar sempre.

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