quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Teatro das Figuras: um palco maior que o sonho


Há palcos maiores que os sonhos.
Palcos onde te sentes pequenina, rasa como uma tábua prestes a ser pisada. 
Há plateias vazias que assustam, tal é a sua dimensão.
E tudo isto vem embrulhado em medo. O medo de falhar. O medo de deixar mal quem quem está connosco. O medo de desiludir quem aposta e confia em nós.
Há, depois, plateias cheias, que te fitam e te fazem tremer.


Confesso que ainda não digeri as emoções de sábado. Foram muitas, todas embrulhadas em pânico, dor e muitas cãibras.

Quando entrei para o ballet, não tinha como o objectivo o palco. Queria apenas realizar um sonho de menina. Mas ele surgiu no horizonte e eu abracei-o como abraço todos os desafios que me ponham à prova. Primeiro foi o Lethes, depois a Ualg, uns meses depois veio Beja. Regressei ao Lethes e, de repente, saio de um palco de 4 metros para um 4 vezes maior, com uma plateia igualmente gigante.

A notícia da chegada ao Teatro das Figuras foi recebida com um misto de alegria e emoção - afinal, é o palco principal da minha cidade. Depois vieram as questões: a sério? quão grande é? há alterações à coreografia? As respostas foram sempre tranquilizadoras. Os ensaios correram-me sempre mal (rasparta os chassés com arabesque!) - até ao último!

Eu achava que estava tranquila. Achava. Achava até me ter esgueirado até ao local onde íriamos actuar e perceber a verdadeira dimensão da coisa. Caiu-me a ficha! Primeiro ensaio de palco. Mau. Segundo ensaio de palco. Pior. Fiquei em pânico. Tudo me doía - as costas, as pernas, os pés. Tive cãibras que me fizeram descer das pontas. Apeteceu-me chorar. Passou-me pela cabeça desistir. Pensei vezes sem conta que não iria capaz de o fazer.

Um pouco antes do espectáculo começar comecei a mentalizar-me que iria conseguir. Que iria aguentar-me nas pontas. Que iria conseguir equilibrar-me nos chassés. Fomos as últimas. Somos sempre - acreditem que isto para mim representa sofrimento e ansiedade a dobrar. Dizem-me que a plateia está quase cheia e o medo volta. 

O palco. A música. Blackout. As luzes. O agradecimento. Os aplausos. Acabou. 

Não caí das pontas. Não me desequilibrei. Consegui. Recuei para dar lugar à entrada dos outros grupos e pelo rosto escorriam-me lágrimas de maquilhagem, de nervos, de descompressão. 

Foi muito difícil. Mesmo. Quem me conhece e estava na plateia disse-me que se notava a minha tensão. Mas já passou. Feito. Mais um carimbo neste passaporte paralelo do sonho.

E agora? Ahhhh, agora pensa-se em Julho e na coreografia que já está a ser ensaiada.

OBRIGADA às minhas queridas colegas de aula, de ensaio, de macaquice e pinderiquice, de palco.
OBRIGADA à minha querida professora a quem, vezes sem conta, mostro a minha cara enfurecida e de desalento e que tem sempre A palavra certa NO momento certo.

Não tenho fotos decentes. Por enquanto apenas esta.


Foto P/B: Luisa Melão

Pano p'ra Mangas

2 comentários:

  1. Muitos parabéns!!! Sou mãe de uma estudante de bailarina e sinto por ela o quanto é difícil a ela, que desde pequena é o seu "trabalho", muito mais será para um adulto, com a realidade e racionalidade dos medos.
    Mais uma vez e sempre muitos parabéns!

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  2. Nunca é tarde para perseguir os nossos sonhos:)

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