Ler o
blog da Sofia sempre foi como ter um encontro marcado à moda antiga, daqueles que eram selados com um "Então até amanhã, no sitio do costume!" - foi assim que me habituei a ele, desde o início, ainda a Sofia "não existia" e quem o assinava era uma tal de "Miss Glittering". Já nessa altura ela brilhava... Ainda me recordo de, com outra amiga comentarmos: "Já leste o post de hoje?" (ou de ontem, ou anteontem, ...). Fazia-me rir nos dias mais cinzentos, sorrir de uma saudade nem sei de quê e lia-a com o mesmo entusiasmo que aos nove anos devorava a colecção d'
O Colégio das Quatro Torres - e digo devorava porque a li vezes sem conta e vivi cada uma daquelas aventuras como se fosse minha.
Passaram dois ou três anos, talvez - isto de anos na blogosfera parece algo eterno... -, pelo caminho encontrei novas rotinas e o encontro matinal com a Miss Glittering deu lugar a outros encontros, até que um dia a procurei e lá estava o blog e da Miss G tinha nascido a Sofia. Nunca mais lhe perdi o rasto - leio-a, releio-a, partilho-a com quem me é importante, por isso não podia ter ficado mais feliz quando soube que não precisaria mais de
wifi, passwords ou qualquer outro
gadget, uma vez que iria estar sempre acessível, até no lugar mais remoto - desculpem-me os mais
techies, mas não há nada que substitua um
livro de papel que se pode folhear e, até, desfolhar (não é que eu o faça, mas...), cheirar, sentir, anotar, rabiscar...sei lá.
O
às 9 no me livro anda, desde a semana passada, na minha mala, graças à generosidade da Sofia que teve a amabilidade de mo oferecer - com direito a uma dedicatória e a uma página "só" minha. Não o quero ler de uma só vez. Quero saborear cada bocadinho, pois sei que cada vez que o abro tem uma mensagem especial para o dia ou para o momento em que o estou a ler. É isto que o torna tão especial, além do especial que já é: é um livro para todos os dias, uma vez que aberto "ao acaso" (como se houvesse acasos...) o texto certo aparece. E o que é que sinto quando o estou a ler? Sinto as palavras de
Alexandre O' Neill num dos meus poemas preferidos de sempre:
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Latra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras qque nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.