domingo, 29 de março de 2020

#stayhome

ALGARVE FECHADO ...
... e não é para férias!
Este é um apelo que faço em nome do meu Sul!

O Governo decreta, as notícias aconselham, mas parece que a desobediência continua a imperar.
É certo e sabido que o Algarve é um destino muito apetecível nas férias da Páscoa.
Também podem acreditar que há muito boa gente que depende destes períodos de grande afluência para conseguir por pão na mesa.

Mas, por favor, por uma vez, só este ano: NÃO VENHAM PARA CÁ! As praias não fogem, o mar também não e o sol estará cá para vos brindar sempre que aparecerem.
É uma questão de sobrevivência!
Pelas mais variadas razões...
Não só o vírus se propaga facilmente, como já se perdeu o tino às cadeias de transmissão, e aqui este cantinho à beira mar plantado não tem condições para receber pessoas que estejam, venham a estar ou que transmitam o virús.

Os recursos hospitalares são escassos, e não falo só de infra-estruturas físicas. As infraestruturas humanas também são frágeis e mal dão conta dos "nossos"...
Não podem vir de carro? Também não se enfiem em transportes públicos.
As portagens estão vigiadas? Também não tentem passar a serra.

F I Q U E M EM C A S A! - será assim tão difícil de perceber?
Provavelmente, quem só cá vem de férias não tem a noção, por exemplo que, por vezes, temos de esperar meses por uma consulta de especialidade, apenas porque o médico vem de Lisboa, Porto ou Coimbra.
Há quase um ano, a minha mãe teve de ser submetida a uma cirurgia para lhe colocarem um pacemaker e de onde veio o médico, de propósito para o efeito e em modo urgência? De Coimbra!
Sim, acho que quem não é de cá não tem noção destas limitações. Ou, por outro lado está-se nas tintas e só pensa no próprio umbigo!

Pano p'ra Mangas

quinta-feira, 26 de março de 2020

Lua Nova em Carneiro


A Lua Nova em Carneiro aconteceu anteontem e eu estive a assistir a um webinar sobre o assunto, feito por uma pessoa na qual confio plenamente, a Vera Braz Mendes.

(Ahhhh, o que é isto? A Margarida agora fala de Astrologia? Confesso que não percebo nada do assunto, embora há muito tempo me interesse sobre o mesmo  – e não, não estou a falar das “previsões” que vêm nas revistas... – porém, algumas circunstâncias à minha volta levaram-me a tomar a decisão de aprender a falar “astrologuês” ou “zodiaquês”, como preferirem.)

Voltando à Lua Nova!

O webinar foi muito mais do que isso, foi, também uma verdadeira reflexão sobre o que se está a passar, neste momento, não só à nossa volta, como em todo o mundo. Refiro-me, obviamente, à pandemia provocada pelo Covid 19 e que está a deixar cidades vazias, silenciosamente pesadas e hospitais cheios à beira do abismo.

Esta imposição para ficar em casa é má. Por muitos motivos é! Não há como o negar. E irá ter consequências nefastas em diversas áreas da sociedade. Estou, agora a olhar para o copo meio vazio que tenho na minha frente, por isso, decido e  vou buscar um copo mais pequeno, verter nele toda a água e passo a olhar para um copo totalmente cheio.

Ficar em casa pode ser visto como um convite do Universo a olharmos para dentro de nós: o que nos move, quem somos, que medos temos, que assuntos temos por resolver, ... É um ficar dentro da nossa própria casa, que é como quem diz, no nosso corpo e na nossa mente. È ir às raízes emocionais, cuidar delas e renascer. A vida lá fora corre tão depressa e a um ritmo tão alucinante, que a nossa realidade chega a ser alucinada, e não temos tempo para nada. Chegou a altura!

Pelo que percebi, há uma conjugação de planetas no céu, no signo de capricórnio, que desencadeou tudo o que estamos a vivenciar e que veio mexer com as estruturas externas – a sociedade tal como a conhecíamos não voltará a ser a mesma. Está a ser-nos dada a hipótese de criar uma nova realidade. Provavelmente haverá quem se queira manter no mesmo lugar, mas essa realidade, que ontem era uma verdade absoluta, amanhã estará noutra dimensão. Não há volta a dar.

Todas as estruturas, tudo aquilo que tínhamos como dado adquirido está a ser agitado e isso vai mexer com a nossa (sensação) de segurança e daí o tal convite à introspecção, à viagem às nossas raízes e a cuidar delas. Não é o que fazemos com uma planta quando ela está moribunda? Cortamos-lhe as folhas para que a vitalidade da raiz não se perca na totalidade, e passado algum tempo uma nova planta nascerá da terra. Como disse a Vera, há que construir a nossa casa, curar o que está doente para podermos sobreviver.

A nossa urgência será fazer renascer o colectivo, mas não nos podemos direccionar para ele sem que, em primeiro lugar, saibamos e conheçamos a nossa individualidade. A essência de cada um de nós. Cada um de nós tem algo de especial com o qual poderemos contribuir para o grupo, mas só depois de o conhecermos. O que está a ser pedido é que fiquemos connosco para curar os nossos medos, as nossas tristezas, as nossas angústias. Vamos descobrir o sol que temos dentro de cada um de nós.

(Calma, pessoal, eu “não vi a luz” nem me virei para o “espiritualinho” que usa a palavra “grata” e “gratidão” como se estivesse a pedir uma sande e um galão ao balcão de um qualquer café )

Vamos aprender a a lidar com a responsabilidade – primeiro comigo e depois com a sociedade. Pelos vistos este processo teve início em 2008 – lembram-se da infortunada crise que a todos nos tocou? – quando Plutão entrou em Capricórnio.

Como já foi dito anterirmente, estar fechado dentro de casa não é fácil e é com ligeireza que nos escapamos ao estar connosco – temos, para o bem e para o mal, muitas distrações: as redes sociais, as séries da moda e toda uma panóplia de coisas que nos afastam o pensamento de nós próprios. Não, isto não se trata de egoísmo, nem de egocentrismo – isso é totalmente diferente! Aproveitemos este tempo para nos “desligarmos” do exterior e nos “conectarmos” com o nosso eu para nos começarmos a curar – não fiquemos à espera que passe, como se estivéssemos distraídos numa estação de metro. É que logo de seguida não virá nenhum combóio... Se é isso que fizermos, as feridas – mais ou menos abertas – continuarão lá e nunca serão saradas. Posso dizer-vos que tenho algumas abertas, mas que por já as ter identificado, já iniciei o meu looonnnngo caminho de cura.

Tudo o que se passa fora de mim, passa-se dentro de mim. É o efeito espelho. Se algo ou alguém me irritam ou me desconcertam, o que é que está avariado dentro de mim? Olhem que isto não é fácil. Durante muito tempo neguei esta teoria, até que aos poucos fui descobrindo o porquê de algumas birras, dores, actos, ...

A chegada de uma Lua Nova representa uma nova energia, que ao longo do ano vai passando de signo em signo, cada qual com as suas características. E é nesta altura que devemos iniciar um processo de renascimento, colocando as nossas intenções – nunca esquecendo de agradecer por tudo o que já conquistámos e deitar fora o que já não nos faz falta.

A Lua Nova em Carneiro – a tal que chegou anteontem – representa libertação: de raiva, de incapacidade de estabelecer fronteiras, de impulsividade; mas também representa construção: pioneirismo, iniciativa, acção directa e concreta, coragem - que é como quem diz "acção" (agem) vinda do interior, do coração (cor).

E agora? O que faço com isto? Se fores audaz, faz o teu mapa (ou carta) natal, está atento às lunações, vê qual a casa que a Lua abre, pois é aí que terás de desbravar caminho. Usemos cada Lua Nova para nos concretizarmos.

Uma das frases que ontem mais me marcou, dita pela Vera foi: “Deixem que o mundo vos veja!” (que, de imediato me levou para uma canção que cantávamos na oração da manhã no Colégio e que dizia: "essa luz pequenina, vais deixá-la brilhar")

Isto tudo fez sentido ou estive a falar chinês? Bem, se isto é chinês, talvez o melhor – se quiserem saber mais sobre o assunto – é marcarem uma consulta com a Vera, que ela explica tudinho tim-tim por tim-tim.

PS - Este não é um post patrocinado. Ninguém me pediu para o escrever. Apenas senti vontade de partihar isto convosco, porque foi algo que me tocou. E só vos digo que vou ter muito trabalhinho pela frente, pois a Casa que o Carneiro abre no meu mapa não é pêra doce...

Pano p'ra Mangas


segunda-feira, 23 de março de 2020

Hoje foi dia de ir à vila!

Esta frase faz-me lembrar aquela que, quem frequenta as nossas ilhas, diz: hoje ( ou amanhã) vou a terra! Ouvi isto tantas vezes, especialmente durante a minha infância e adolescência...
As idas a terra eram racionadas, bem como os bens que se trazia no barco. Não que houvesse contenção, mas o transporte de grandes quantidades de mantimentos era humanamente impossível. Era, e ainda é, uma logística complicada: de casa ou do mercado até ao cais; do cais até ao barco; do barco até ao outro cais - ou ponte, como lhe chamamos, e daí até casa, que podia ser logo ali, como mais além.
Só que, ao contrário da vida na ilha que era "wild and free", e ao passarmos pelas casas dávamos de vaia - que é como quem diz, cumprimentávamos - a toda a gente e nos encontrávamos na praia sem que, para isso, fosse necessário um telefonema com um "onde estás?", a vila hoje estava deserta. Ou, pelo menos por onde andei...
As saídas agora são feitas com contenção. Com regras. Com precaução. Algo que pouca gente já viveu, com certeza.
Estacionei o mais perto que pude da farmácia onde tinha de ir e percorri a pé, não mais que duas ou três ruas completamente desertas. É um vazio que arrepia. É frio. É pesado. Dói na alma e mete medo.
Este sentimento é estranho, logo eu que gosto de espaços vazios, sem pessoas, para fotografar. Num outro contexto teria sido uma paisagem de sonho... Eu, a máquina fotográfica e uma paisagem urbana nua de gente! Se soubessem as vezes que desejei por isto. E agora? Nem vontade tenho de pegar na camera.
Cheguei à farmácia. A porta está fechada a sete chaves e o atendimento é feito por uma pequena janela de serviço nocturno, mesmo ao virar da esquina. Tiro uma senha e aguardo a minha vez. Em silêncio. Atrás de mim chegam duas pessoas que, pelo aspecto, pertencem ao dito grupo de risco. Dou-lhes a minha vez. Dizem que não, que não é preciso. Insisto e acabam por aceder.
Medicamentos para a tensão. Medicamentos para o colesterol. Um creme gordo para cicatrizes.
São estes os pedidos que oiço. Apercebo-me, pelo que escuto que um deles é doente oncológico... Um outro, com um ar resignado e triste, desabafa, mantendo a distância de resguardo: Tiram-nos tudo. O pouco que já temos, e agora a nossa liberdade. Nem conversar ou estar com os amigos podemos...
É como se lhes tirassem o ar que, ainda, entra nos pulmões.
Fiquei a matutar. É difícil ser-se velho, mas a solidão ainda é pior. Ser-se velho e só é de uma atrocidade dantesca. E uso a palavra velho de uma forma carinhosa, sem qualquer desprezo. Quisera eu chegar àquelas idades e ser velha.
Disciplinar estes velhos em tempo de "guerra" é duro, sim. Mas também é tirar-lhes a vida que ainda lhes resta.
Confesso que não me assusta a velhice nem a morte. Assusta-me a dor e a solidão.
Uma hora e meia depois regresso, pelas mesmas ruas vazias, silenciosas, pesadas.
Dentro de uns dias voltarei à vila. Por ora, vou-me mantendo no meu campo, a cuidar que os meus se portem bem, e onde o meu avô, há 74 anos plantou corações na calçada, que só agora descubro. Obrigada Avô Zé, por este mimo e aconchego.

Pano p'ra Mangas

quinta-feira, 19 de março de 2020

Saudades de futuro

Escrevo muitas vezes sobre a saudade. A saudade que vive dentro de mim. Às vezes nem sei bem do quê nem de quem. Ou até sei, com certeza!

Uso amiúde a expressão "saudades do futuro" e nunca, como hoje, essa expressão fez tanto sentido. 

Tenho saudades do futuro que virá depois desta tempestade. E quando me refiro a tempestade não é só ao período de quarentena a que estamos sujeitos. A tempestade ainda agora começou a levantar os primeiros ventos, os quais já fizeram cair algumas árvores. Vai doer. A todos. Estaremos preparados? Nunca estamos, por muitas precauções que tomemos - o inesperado vem naquelas letras pequeninas que estão nos contratos, que ninguém lê e que assinamos às cegas.

Onde iremos, então buscar forças? A nós! Só dentro de nós existe a força para superarmos o que aí vem. Mas sabem? Tenho fé que a bonança que se seguirá irá deixar saudades... as tais saudades de futuro.

E aí, como sobrevivente, hei-de agarrar com as duas mãos tudo o que me der força. Tudo o que me deixar feliz. E não vou deixar para depois tudo aquilo que tenho para fazer ou dizer. Haja saúde para isso! O resto vem por acréscimo. Por ora tenho o meu ano de 2020 suspenso. Suspenso num baloiço onde o equilibrio me provoca vertigens! Não o cancelei, porque o quero viver com tudo aquilo que mereço e a que tenho direito.

Pano p'ra Mangas

sábado, 7 de março de 2020

People of Faro by Contextos


Há umas semanas fui entrevistada para uma rubrica denominada People of Faro, no âmbito de um projecto desenvolvido pela Associação Contextos cuja hashtag #peopleoffaro podem usar nas redes sociais para descobrir uma série de pessoas talentosas aqui da vila. 

O convite foi feito pela Beste, uma miúda turca, temporariamente a viver e a fazer voluntariado em Portugal e com uma história - com certeza comum a muitas outras pessoas - de fazer correr as lágrimas pelo rostos de que a ouve. Uma história de perda, de dor e de superação, que ela partilhou no PechaKucha (sobre isto falarei noutro post)


Encontrámo-nos num dia frio de Janeiro na Baixa de Faro e fomos até à Cidade Velha, zona que me é muito querida, por ser pequenina e acolhedora e por me trazer sempre algo de novo quando por lá ando. Sabem aquele coisa que gosto de fazer que é ser turista na minha própria cidade? 

Com ela veio a Ana Monteiro, fotógrafa, que conseguiu captar o meu mais emotivo sorriso - ou pelo menos aquele que é possível em dias de Inverno, já que eu, apesar de gostar do frio, sou uma pessoa sol e que precisa de bom tempo. Eu, de microfone ao peito e a Beste de gravador em punho lá me foi fazendo umas perguntas.

O texto original está em inglês, mas para quem quiser, deixo aqui a tradução do mesmo.

Movida a curiosidade, a Margarida considera o palco a sua casa. Ter começado ballet aos 41 anos é o seu super-poder.

Quem é a Margarida?

A Margarida é uma pessoa muito curiosa. Normalmente digo que sou movida a curiosidade e que esse é o meu combustível. Sempre fui assim. Sou uma pessoa tímida e introvertida, apesar de as pessoas não o acharem.
Sou portuguesa, de Faro. Vivi quase toda a minha vida aqui com alguns períodos no estrangeiro. Fiz Erasmus na Austria, em 1994, quando mal se sabia o que isso era. E há alguns anos vivi em Londres durante um ano e meio. A minha alma está em qualquer lugar.
O que queres ser quando fores mais velha?
Eu deixo-me ir na corrente. Presentemente estou a leccionar Escrita Criativa e, talvez, seja este o caminho, pelo menos durante uns anos. Um dos meus sonhos é participar numa TedX: estar em palco! Porque o palco é onde me sinto em casa.
Aos 41 anos decidi seguir um sonho de criança que era aprender ballet clássico. Encontrei aulas de ballet para adultos em Faro e no final desse ano lectivo tivemos um espectáculo. Dançámos um pequeno excerto do Lago dos Cisnes. Depois disso fiz Giselle e Dom Quixote, sempre de tutu e sapatilhas de pontas! Isto foi o sonho de uma criança tornado realidade depois dos 40 anos. O meu super poder é ter-me iniciado no ballet aos 41.

Qual é a primeira coisa que te vem à cabeça quando pensas em Faro?
O sol e a luz. Também as ilhas, A Ilha do Farol também me sabe a casa - é um lugar feliz. É um lugar onde me sinto segura e em paz e onde gosto de estar durante o Verão.
Qual seria a banda sonora da história da tua vida?
Esta pergunta faz-me reviver os meus tempos de Erasmus. Havia uma banda chamada Extreme. Também os U2 ou os Xutos e Pontapés. Actualmente gosto de ouvir música clássica e bandas sonoras de filmes, sendo Hans Zimmer o meu compositor favorito. Posso passar horas seguidas a ouvi-lo.
Qual o lugar em Faro, com o qual estás mais conectada? Porquê?
A Ilha do Farol. Porque algumas das minhas melhores memórias vêm de lá, desde a minha infância até à minha vida adulta. Lembro-me, por exemplo, de no final do terceiro ano da faculdade estar completamente esgotada e de a minha mãe me querer levar ao médico. Eu não quis. Disse-lhe que apenas precisava de passar uns dias na ilha e que ficaria bem. E assim foi.Passei lá cinco dias e fiquei curada. 
Também o centro da cidade. Porque gosto de andar por aqui, às vezes com a minha camera outras apenas com o telefone. Por muitas vezes que passe pelo mesmo lugar, a luz e os dias, tornam-no diferente.
Passados uns dias, voltei a encontrar-me com a Beste e com a Ana, não para mais perguntas, mas para umas fotos LINDAS DE MORRER no meu (mini) Atelier da Barafunda! Obrigada, do fundo do coração 💗


Pano p'ra Mangas
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