domingo, 28 de junho de 2020

Quase no fim...

... o ano que, definitivamente, mais me marcou nos últimos tempos. 

Continuo a contar os anos pelos períodos lectivos, talvez pelo facto de o meu aniversário ser em Setembro, quando as aulas começam ou porque a minha actividade principal tem fim a cada mês de Maio ou Junho - conforme se tenho alunos para preparar para exames, ou não.

E porque é que este 2019/2020 foi assim tão marcante? Por várias razões... Foi marcado, indubitavelmente, por desafios do caneco, com um bicho invisível pelo meio, que tenho conseguido manter afastado do meu meio.

Houve fins. Houve princípios. Houve reinícios. Houve pausas. Houve lágrimas de tristeza, desespero e súplica. Houve desilusões. Houve sorrisos, sonoras gargalhadas e felicidade. Houve surpresas. Tudo isto emoldurado por palavras - muitas palavras!

Já o ano lectivo ía em modo up and running quando surgiu o convite para dar aulas de Escrita Criativa. Hesitei. Tive medo. Era como pisar um palco pela primeira vez em que a plateia é pequena e te julga de alto a baixo, mede as tuas palavras, estuda os teus gestos, ouve - quase sempre - os teus erros e não te poupa a críticas mordazes. Embora já tenha passado muito tempo, lembro-me bem do que era ser aluna, mas também me lembro a primeira vez que pisei uma sala de aula com 23 anos acabados de fazer e nenhuma experiência. Aceitei o desafio! Não digo não a um bom desafio! Afinal, era o concretizar de mais um sonho de menina, do qual fui obrigada a desistir pouco tempo depois de ter terminado a faculdade.

A verdade é que não há, que eu saiba, licenciaturas em Escrita Criativa, mas cinco anos de Estudos Portugueses, a ler há quarenta anos,  mais de vinte a escrever por aqui e por ali e quase dez a dar explicações para alguma coisa me servem.

Fui "praxada" logo na primeira aula. Entusiasmada, comprei canetas coloridas para quadro branco - apesar da existência de um quadro de ardósia na sala - e, movida pela frescura escrevi, com orgulho, o sumário daquela que era a minha primeira aula. O burburinho nas minhas costas deu origem a um silêncio sepulcral. Viro-me e há uma aluna que - de riso encolhido - me diz: "Pr'ssora, isso é o quadro interactivo!". Ía morrendo! Vi a minha vida a andar para trás. No final foi risota pegada e tudo não passou de um susto. Lição aprendida: passei a usar o quadro de ardósia!

A meio do ano e de forma abrupta viemos todos para casa. Contudo, não foi por isso que o ritmo abrandou... Os primeiros quinze dias foram de desconcerto, desorientação e receio. Confesso que, ingenuamente, pensei que este recolhimento durasse apenas duas semanas. Só que não!
À medida que as notícias íam avançando, fui perdendo explicandos... not good! Ainda assim, aceitável. 

As aulas e explicações começaram a ser feitas a partir de casa. Primeiro só com trabalhos e depois via Zoom e Teams. Improvisei um canto que não invadisse a minha privacidade e que, em simultâneo fosse agradável a quem me visse do outro lado do ecrã. Decorei-o com as minhas pessoas, e com momentos bons - tinha de haver algo positivo no meio de tudo isto.
O cansaço foi levado, muitas vezes, à exaustão. 

Houve dias em que me sentava ao computador às 9 da manhã e me levantava às 9 da noite.
Houve dias em que fiquei sem voz.
Houve dias em que tive de adiar aulas porque as náuseas eram insuportáveis.
Houve dias em que achei que o meu velhinho computador já não aguentasse.
Houve dias em que tive de ir buscar um segundo par de óculos para colocar em cima dos meus e, como se não chegasse, ainda usava o zoom da camera do telemóvel para conseguir ler.

Graças a Deus nunca tive de me preocupar com refeições e isso foi uma verdadeira benção. 

Não sei como será em Setembro. Setembro é sempre tempo de mudanças - e na minha vida já houve tantas, como escrevi há uns meses...

Sei que tenho saudades dos meus miúdos: de lhes colar - na brincadeira - um ponteiro à testa para ver se a matéria entrava melhor, de lhes abrir os olhos e torcer o nariz, de rir com eles, de ser confidente, de lhes fazer bolos para o lanche, de celebrar cada uma das suas vitórias pessoalmente. 

Mas sei que os meus explicandos não precisam de ser de Faro... Eles podem chegar-me de qualquer ponto do país, pois o trabalho que foi desenvolvido individualmente com cada um deles não perdeu qualidade. Continuo e continuarei a dar-lhes a cana para que aprendam a pescar.

Só darei por terminado o ano depois das reuniões de avaliação - e ainda tenho algumas grelhas por preencher!

Fica, desde já o meu MUITO OBRIGADA a todos os que se mantiveram comigo nestes meses tão diferentes quanto duros.

Pano p'ra Mangas

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Ilusões


Quando o confinamento teve início - para mim, no dia 13 de Março - criei a ilusão de que não só a coisa apenas duraria umas duas semanas, como teria tempo para fazer uma pilha de coisas que normalmente não faço e outras que deixei de fazer.  Pensei que regressaria à prática regular de exercício físico, que conseguiria fazer este ou aquele curso, que teria tempo para ler mais, fotografar mais, criar mais peças de cerâmica ... até regressar mais amiúde à blogosfera.

Tudo não passou de um filme que fiz na minha cabeça!

Li algumas coisas, sim e de vez em quando tenho pegado na máquina fotográfica. 
Hoje percebi que não vinha cá há quase dois meses...
Cursos? Quais cursos? 
Cerâmica? Também não!
Passo tantas horas em frente ao computador que acabo por não ter energia para mais nada. De vez em quando sou assaltada pela vontade de "amanhã vai ser diferente", mas chego ao fim do dia com os olhos tão moídos, a cabeça cansada e o rabo (ainda mais) quadrado, que a tal vontade vai para o mesmo lugar de onde partiu sem que tenha saído do lugar.

Queixo-me? Sim e não! Afinal não fiquei sem trabalho e, mesmo de casa, tenho conseguido gerir a minha actividade. Perdi algum income, é verdade, mas não o suficiente para entrar em desespero.

Há dias em que penso que era capaz de trabalhar sempre em modo remoto, mas rapidamente afasto esses pensamentos da minha cabeça. Tenho saudades dos meus miúdos, de lhes preparar um bolo para o lanche e de lhes medir o humor quando lhes abro a porta.

Isto de passar o dia a uma curta distância do computador é duro! Chego a ter náuseas e quebras de tensão. Mas vai passar...
E se acredito que vai ficar tudo bem? Não, não acredito. Pelo menos nos próximos tempos. Vai ficar bem, aos poucos - isso sim, acredito, mas não é já.
Pano p'ra Mangas

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