quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Corrigir testes


Todos nós crescemos a fazer testes e, enquanto estudantes, reclamávamos de cada vez que o professor chegava à aula a seguir aos ditos cujos sem que os trouxesse corrigidos. Ora bem...isto tem mais que se lhe diga!, mas na altura não fazia ideia do que estava por trás de tamanha demora.

Sim, há professores mais ágeis que outros. 
Sim, há disciplinas, cujos testes, que, pelo seu teor mais objectivo, são mais fáceis e rápidos de devolver.
Sim, há professores mais, ou menos exigentes.

Confesso: sou chatinha! E, por incrível que pareça, um teste com menos anotações não quer dizer que esteja melhor que um outro que esteja mais rabiscado, anotado, pintalgado. Por vezes não há nada que possa ser dito e isso não tem de ser nem bom, nem mau. Outras vezes há em que faço tantas anotações, setas e asteriscos que não deve ser fácil interpretar o porquê de tanta cor. 

Normalmente nem olham para o que lá escrevo. Apenas vêem a mancha colorida que invade o enunciado e passam os olhos pela nota. Depois, enfiam a folha dentro de um caderno, deixam por baixo da mesa ou atiram para a mochila. Poucos são os que se questionam. Poucos são os que têm tudo organizado. Enquanto adulta e no papel de professora, é obvio que me preocupam os primeiros e me agradam os últimos. Eu já tive a idade deles e lembro-me o que fazia aos testes quando os recebia: alguns havia que não ligava nenhuma, outros eram analisados à lupa na tentativa de descobrir alguma falha do professor para que pudesse subir a nota e outros guardava-os no respectivo caderno diário.

Tenho por norma não corrigir a vermelho. Prefiro o rosa ou o laranja. Manias ... 

Há dias dei-me ao trabalho de contar pelo relógio o tempo que levo em correcções. São cerca de três horas a corrigir oito textos (no meu caso, um texto - ou produção escrita - corresponde a um teste), em que a média de palavras ronda as 160 ou 180. Parece pouco, não é? Seria, se não tivesse mais de cem para corrigir.

Leio cada um destes textos, pelo menos duas vezes. Às vezes, três. A cada volta descubro erros ortográficos, de pontuação, de coesão e coerência. A cada volta faço anotações diferentes: assinalo reiterações, sugiro sinónimos e outras formas de escrever o que lá está.

Ao fim de algum tempo tenho de parar. Preciso destas pausas para continuar a tarefa com precisão e rigor, sem me deixar vencer pelo cansaço. Não acho certo que nos primeiros sejam corrigidos de forma mais rigorosa que os seguintes. Os critérios têm de ser iguais. Dou comigo, muitas vezes, a consultar o dicionário pois, de ler tantos erros, acabo por ficar com dúvidas. Será só comigo que isto acontece? 

Feitas as contas, demoro cerca de 45 horas com um grupo de textos de avaliação, já que depois de os corrigir ainda tenho de os classificar em infinitas e demoníacas tabelas de Excel!!!

São muitas horas, é verdade. E onde é que as vou buscar? Dava jeito ser Senhora do Tempo, com a capacidade de o multiplicar... Mas não sou. Assim, tenho de as roubar aos meus dias, à minha cama, aos meus amigos, à minha família, aos meus hobbies, às refeições, à casa, a mim... 

Podia não fazer testes? Podia!  

Quantas são as profissões que exigem trabalhar antes e depois do horário laboral? Há algumas, eu sei que há, mas não são assim tantas como tudo isso. 

E não, não me estou a queixar. Isto é um facto contra o qual não há argumentos. Quer dizer... há miúdos que argumentam também ter de estar na escola e ter de estudar depois e não receberem por isso - não recebem em moeda, é verdade, mas recebem em notas e em géneros, não têm contas para pagar nem outras preocupações do género. Percebem isso? Acho que não...



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