quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Unboxing


Esta já não tão recente moda do “unboxing” (literalmente: desempacotar!) só há pouco tempo - e por “pouco tempo”, quero dizer “alguns meses” - tomou conta das contas de Instagram das influenciadoras portuguesas, e falo no feminino apenas porque não tenho conhecimento do que se passa no universo dos blogs masculinos. Apenas.
As primeiras que vi confesso que achei alguma piada: afinal quem não gosta de receber presentes, os quais, em grande parte dos casos, não iríamos comprar? (É que para a maioria comprar uns ténis de €100,00 não é a mesma coisa que ir ao supermercado buscar um quilo de cenouras...)


A ideia é fazer parecer ser uma surpresa, com a qual a pessoa que a recebe fica muito feliz e, de repente aquele produto até então desconhecido passa a ser o Ferrari dos cremes, o Rolls Royce do calçado ou o Rolex dos suplementos alimentares. Não é o máximo? E se com isso vier um código promocional para ter desconto numa compra, então temos a cereja no topo do bolo.


Parece que é uma estratégia que resulta. Se as marcas e agências de comunicação continuam a enviar presentes e a pagar para que o dito unboxing seja feito, então está tudo bem.


Só que não! Não mesmo! Pelo menos na minha opinião. Pelo menos da forma como é feito.


Todo este processo parece ser feito em modo “avalanche” e, num espaço de dois ou três dias basta percorrer as stories, murais, blogs e vlogs destas influenciadoras para ver os mesmos produtos vezes sem conta e as mesmas palavras proferidas por pessoas diferentes, os mesmos textos escritos em vários meios (isto acontece porque algumas vezes os produtos não chegam sozinhos, pois num envelope ou por e-mail chega uma press release que tem a informação necessária e basta copiar e colar; há quem se dê ao trabalho de mudar uma palavra ou outra, mas não acontece muito...). Mudam os rostos e mudam as fotos. Só isso.
Numa época em que se apela à valorização da experiência e não do produto apenas, não era suposto tudo isto parecer natural? Genuíno? Vivido na primeira pessoa? Como se o creme, os sapatos ou o dito suplemento tivesse sido escolhido por quem o está a divulgar?


Não sei se será este o termo adequado, mas eu chamaria isto de "marketing agressivo"! É que dói...e quem está do lado de cá vai-se cansar - se é que já não está cansado - de levar com o mesmo, a toda a hora, a todos os minutos.


Tudo é vendável. Por um pacote de bolachas. Até a alma, se for preciso.


Não tenho nada contra o envio destes presentes- até porque isto é muito mais complexo que um simples presente, pois na maior parte das vezes passa por agências, contratos, etc Apenas não concordo com a forma como é feito. Mas quem sou eu para concordar ou deixar de concordar? Eu não percebo nada de marketing, sou apenas uma atenta observadora de factos.


Se a moda do unboxing veio para ficar? Espero bem que não! Espero que tenha os dias contados. Ou...a continuar, que seja feito de outra forma, mais suave, mais genuína, mais sentida.


Porquê? Porque da forma como está a ser feito vai acabar por desgastar e descredibilizar quer as marcas, quer as influenciadoras. Tudo se torna banal. Nada é valorizado. É a apologia do consumo pouco consciente e desenfreado. É o “ter” em vez do “ser”. Mas isto é assunto que dá pano p’ra mangas, por isso hoje vou ficar por aqui.


Pano p'ra Mangas

3 comentários:

  1. Como eu concordo com as suas palavras, mas isto não vai terminar, pois após o unboxing vem uma montanha de comentário as pessoas adoram, e penso que é isso que faz crescer ainda mais o blog, já vi alguns confesso, mas faço um fastfoward pois cansa-me.
    Mas as blogers vivem disso não?

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    1. Não acredito que vivam do unboxing, mas sim dos possíveis contratos que estejam na sua base. Estes contratos devem oferecer contrapartidas em dinheiro e não só em produtos, pois ninguém vive de cremes ou sapatos.

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  2. Isto não é de agora, se bem que agora é o unboxing, amanhã chamam-lhe outra coisa. Quando deixei de escrever no meu blog já tinha reparado neste bombardeamento de todas-a-falar-do-mesmo-ao-mesmo-tempo e cansei-me. Cansei-me porque c9m as marcas a alimentarem este tipo de coisas alguém vai querer saber de blogs que escrevem sobre o que lhes dá na real gana?
    Mas espera, eu não percebo de marketing, mas não sou burra (e até leio umas coisas) e isto não é marketing. A culpa não é de quem “unboxes” (será que existe? :)) mas sim de quem manda a box. Melhor, as 2435643 boxes que vão ser abertas e fomentadas no mesmo dia, quase à mesma hora, a falar do mesmo. Parece que nos querem vencer pelo cansaço. Os influencers existem, porque as marcas os criaram (vá, não vamos por aí, é a velha história do ovo e da galinha!) e todos são preguiçosos ao ponto de impingirem o mesmo porque os seguidores são burros, não se insurgem (“ Oh miga, nunca na vida deixarei de a seguir!!”) e continuam a comer. Olha, é uma canseira, é o que é. E ainda hoje fiz a limpeza mensal no meu Feedly e lá se foram mais uns desse género.
    Ps - os Youtubers homens seguidos pelos “miúdos” também fazem unboxing. Absolutamente deprimente.

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